Chácara Cayres abandonada em São Bernardo

30-03-2011 21:54


domingo, 27 de março de 2011  DIÁRIO DO GRANDE ABC - Setecidades

São Bernardo esquece a Chácara Cayres

Renan Fonseca

Produtora de uvas viníferas, gado de leite e também para lazer familiar. A Chácara Cayres, em São Bernardo, faz parte da construção histórica do município, mas hoje se afunda em ruínas esquecidas pelo poder público mesmo estando "provisoriamente tombada". As fundações estão se acabando na Avenida José Odorizzi, ao lado do Cenforpe (Centro de Formação de Professores).

O terreno foi adquirido por uma família portuguesa por volta da década de 1940. Conforme informações do Centro de Memórias da Prefeitura, Aurélio da Fonseca Fernandes Cayres comprou o terreno, que já pertenceu ao Linhão Jurubatuba, uma das primeiras colônias italianas do Grande ABC. A área possuía quatro alqueires (denominação da época), o que equivale a aproximadamente 100 mil metros quadrados. Pela família, a chácara foi batizada de Colônia dos Cayres.

Além da produção de vinho artesanal, a Colônia dos Cayres criava animais. As fundações ainda preservam algo das 15 baias para vacas de leite. Parte do terreno pertence à Prefeitura. O restante foi comprado por uma empresa.

Segundo a administração, não existe projeto de recuperação para a antiga chácara, que está "tombado provisoriamente pelo Compahc-SBC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de São Bernardo do Campo)".

A última pessoa que habitou a sede da colônia foi o filho de seu Aurélio, Cyro Burjato Cayres. Ele foi um dos expoentes da circuito automobilístico entre as décadas de 1950 e 1970, segundo historiadores da área.

"Seria muito bom se o município colocasse o nome desse grande piloto na avenida que passa ali próximo", disse Bird Clemente, que atuou em corridas e foi cunhado de Cyro. O piloto, o primeiro a marcar recorde em voltas no autódromo de Interlagos, viveu na chácara até 1999.

VIDA À SEDE

E como era de se esperar de qualquer terreno abandonado sem fiscalização, as ruínas da Chácara Cayres estão novamente habitadas. Desempregado e sem-teto, Paulo Francisco Silva, 23 anos, divide uma das edificações da chácara com a companheira, Ivone de Andrade, 42.

Em uma tapera plantaram flores, reformaram o fogão à lenha, adaptaram algumas cortinas, enfim, construíram um lar. "A gente estava morando debaixo de um viaduto quando a polícia mandou sair. Minha mulher viu essas casinhas vazias e começamos a limpar tudo", contou.

Silva hoje recolhe latas de alumínio para sobreviver. Não tem conhecimento da história da casa que reside. "Aqui é tranquilo e tem até água fácil", disse se referindo à nascente nos fundos do terreno.